A revista Planeta dos Macacos, publicada pela Marvel Comics nos anos 1970, nos trouxe ótimas histórias, todas, em geral, com artes deslumbrantes – dessas umas adaptavam os filmes clássicos, enquanto outras nos traziam roteiros originais, como é o caso de Terror no Planeta dos Macacos e O Reino na Ilha dos Macacos. Esse segundo, aproximadamente um ano após sua publicação, ganhou uma sequência, Brutalidade no Planeta dos Macacos, o qual deu continuidade à história de Derek Zane. Como a grande maioria das continuações por aí a grande questão que circunda esta é a necessidade de sua existência, afinal, em meras duas edições a história anterior fora encerrada de maneira ideal.
Doug Moench, que assina o roteiro, deixa bem clara a relevância dessa sequência logo nas primeiras páginas. Apesar de Zane ter encontrado naquela ilha “medieval” seu paraíso, ainda restava a ele buscar pelos astronautas perdidos, sua missão original, que motivara sua viagem no tempo e que fora interrompida pela perseguição do general Gorodon. Ao partir de Camelot, o humano se depara com um chimpanzé chamado Robin Hood e, após uma pequena briga, ambos se juntam nessa busca. O que não esperavam, contudo, é que um novo general subira ao poder no continente, Zaynor, quem compartilha a aversão aos humanos de Gorodon.
Mesmo com o argumento bem definido, que justifica a existência dessa história, Doug Moench acaba decepcionando ao simplesmente repetir a exata mesma fórmula da primeira parte de O Reino na Ilha dos Macacos. Novamente temos Zane se infiltrando na cidade dos símios, sendo preso, julgado e, durante todo o tempo tentando convencer a todos que os seres humanos não devem ser tratados dessa forma. A única verdadeira novidade da revista é a interação com Robin Hood, mas essa ocorre tão brevemente que sequer vemos um verdadeiro desenvolvimento da amizade entre os dois. No fim, Moench chega a deixar uma ponta solta para outra continuação, mas essa jamais foi publicada, em razão do cancelamento da revista pouco tempo depois.
Na arte, Herb Trimpe e Dan Adkins substituem Rico Rival e a diferença dos traços é evidente. Ainda que a nova dupla demonstre bastante cuidado com o detalhamento de seus quadros, temos uma substancial alteração na forma como os personagens são retratados. Ao contrário de Rival, eles se apoiam em um visual mais cartunesco, que muito bem cumpre sua função em relação às expressões faciais dos personagens, mas que não causa o mesmo encantamento da obra anterior. Há de se notar, também, como a arte não dialoga tão bem com os balões de narração, com um simplesmente repetindo o que já está explícito no outro, não se complementando como deveria ser o caso.
Naturalmente que isso ocorre também em razão do pouco espaço disponível para desenvolvimento da história. Estamos falando de um arco que precisa ser introduzido e finalizado em poucas páginas, além de lembrar o leitor o que aconteceu na história anterior. Isso pode ser observado claramente na forma como os painéis são dispostos e preenchidos. Todas as páginas contam com um excesso de informação, com muito texto, o que pode prejudicar o ritmo da leitura, especialmente no início, que demonstra um maior exagero em relação a metáforas e outras figuras de linguagem na narração. Felizmente, a fluidez da narrativa se estabelece já no meio da edição, possibilitando que aproveitemos a trama em sua plenitude.
É uma verdadeira pena, portanto, que Brutalidade no Planeta dos Macacos seja apenas uma grande repetição do que já vimos antes, com sutis diferenças que não justificam essa continuação, a qual, facilmente, poderia ter seguido por um caminho bastante distinto. Doug Moench desperdiça a oportunidade de desenvolver a história de Derek Zane a favor de uma estratégia mais fácil de ser reproduzida. Essa cópia, porém, não traz nem metade do brilho de seu antecessor.
Brutalidade no Planeta dos Macacos (Beast on the Planet of the Apes, EUA – 1976)
Roteiro: Doug Moench
Arte: Herb Trimpe
Arte final: Dan Adkins
Capa: Earl Norem
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: junho de 1976
Editora no Brasil: Editora Bloch
Data de publicação no Brasil: 1976
Páginas: 44