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Crítica | Mulher-Maravilha #8 – 14: Desafio dos Deuses (1987)

por Luiz Santiago
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SPOILERS!

O final da edição #7, Rebirth!, da revista Wonder Woman Vol.2, trouxe a “divulgação” da Mulher-Maravilha em nosso mundo, através da publicitária Myndi Mayer, de quem Diana e a professora Júlia Kapatelis ficarão próximas, ao menos por um tempo. Essa exposição da Amazona chamou a atenção de Barbara Ann Minerva, a Mulher-Leopardo III, que via no Laço da Verdade uma relíquia arqueológica e uma fonte de poder que lhe daria controle sobre as pessoas, além de trazer para a realidade um plano de dominação típico dos vilões exóticos da DC Comics nos anos 80. Mas é apenas neste arco Desafio dos Deuses que a Mulher-Leopardo faz o seu primeiro movimento para obter o objeto e que Diana descobre que existe ainda muita coisa escondida na Ilha Paraíso para ser desvendada. Sua briga com os deuses ainda não acabou.

O começo de Desafio dos Deuses é dado por uma edição bastante literal e de concepção impressionante. Chamada de Time Passages, esta edição traz textos corridos das principais personagens com quem Diana teve contato em sua estadia anterior.

Depois do “Caso Ares”, a Rainha Hipólita deu à filha um prazo para resolver os problemas deixados “do lado de lá” e então voltar para a Ilha Paraíso. A edição #8 é, portanto, como uma despedida alongada e ao mesmo tempo uma continuação da apresentação de Diana/Mulher-Maravilha para o nosso mundo do século XX.

Infelizmente, Diana descobriria em breve que nos bastidores de alguns países do chamado “mundo iluminado”, as palavras de uma mulher, não importando quão necessárias e verdadeiras fossem, simplesmente não seriam ouvidas.

Júlia Kapatelis

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Vejam a elegância de Pérez ao mostrar a transformação de Minerva em Mulher-Leopardo.

Na narrativa da professora, temos a apresentação do caso G. Gordon Godfrey na revista da Mulher-Maravilha e o encontro da Amazona com o pessoal da Liga da Justiça, de quem recebe o convite para integrar o grupo, mas recusa porque seu tempo na Terra dos Homens é limitado e ela tem outras coisas para resolver.

Este ótimo roteiro de Len Wein e George Pérez nos passa a sensação de urgência através dos relatos individuais, que seguem com a carta (mais parecido com um reporte militar) de Etta para Steve Trevor; o diário de Vanessa Kapatelis (filha da professora Júlia) e a atualização da Tour Wonder Woman escrita por Myndi. Cada um desses espaços literais recebe lugar idêntico na diagramação da revista, com um retângulo à direita e à esquerda das páginas (dependendo da sequência de leitura) com diversos tipos de quadros mostrando as cenas referidas nas descrições desenhadas ao lado.

A fluidez da história varia de um ponto de vista para outro e a arte de George Pérez, mais uma vez, nos deixa embasbacados. O artista consegue não só representar com muita beleza os ambientes e personagens, mas tem um senso de narração preciso e expansivo, bastante cinematográfico, com seu aumento de foco no rosto de indivíduos impressionados, closes em olhos e bocas e algo semelhante ao zoom aliado a um passar rápido do tempo em quadros mais complexos, normalmente servindo de encerramento de um bloco narrativo para começar outro (ou seguir com a história a partir de um outro tempo). Essa dinâmica funciona com perfeição no bloco seguinte, o próprio “desafio dos deuses” que Diana precisa enfrentar por ter se recusado atender aos caprichos sexuais de Zeus. Ao menos é a impressão que todos possuem no início, só depois entendendo que tudo aquilo era a ação do Destino e que ninguém poderia controlar ou mudar tais acontecimentos.

desafio dos deuses plano critico mulher maravilha

Um belíssimo painel com o resumo de todos os acontecimentos do arco.

Entre os textos paralelos aos quadrinhos, vemos a chegada de Barbara Ann Minerva e seu servo Chuma aos Estados Unidos, dando início a um micro-arco de ações que colocarão da Mulher-Maravilha contra a Cheetah pela primeira vez nesta Era. Esta parte da história não é mal escrita, muito pelo contrário, mas tem uma aparência final de certa forma decepcionante, porque a luta acontece rápido demais e todo o esforço da arqueóloga e caçadora de tesouros parece ter sido um exagero, diante do término “em nada” que essa busca tem.

A fase seguinte é a que dá o título do arco, propriamente dito. Diana deve enfrentar, como punição, uma série de desafios na parte inferior da Ilha Paraíso (nas bordas ou partes do Hades), tendo um falso deus Pan manipulando Zeus e forçando as cosias para que Diana e a Rainha Hipólita sejam mortas. Aqui é importante destacar o fato de que Zeus é orgulhoso e impulsivo, punindo quem se recusa a deitar com ele, atitude que é repensada ao final, mas não sem deixar seu impacto e sua clara piscadela crítica para o leitor. A recusa das Amazonas em serem brinquedos sexuais ou joguinhos caprichosos nas mãos dos deuses acaba sendo o tema central do desafio, que ainda traz outra remissão, a de Hércules, que séculos antes havia se comportado de maneira misógina e fisicamente violenta em relação a Hipólita.

As cores de Carl Gafford nesta segunda parte alcançam seu melhor momento, assim como as inserções de luta feitas por Pérez no lugar de tormento, no Monte Olimpo ou mesmo na Terra, onde Trevor lamenta a morte do pai e começa um romance com Etta. Dentre os mistérios e surpresas, a revelação de Diana Trevor como presença em Themyscira e inspiração para o uniforme e nome de Diana “Prince” é uma das coisas mais gratificantes e inesperadas da edição, assim como o trabalho hercúleo de Pérez e Wein na escrita sobre a mitologia grega em toda a sua glória. Desafio dos Deuses termina com Diana voltando ao nosso mundo, agora sem prazo e com as sandálias de Hermes, que permitem-na voltar sem maiores problemas para a Ilha. A rigor, termina aqui a excelente apresentação oficial da Mulher-Maravilha na DC pós-Crise. Uma apresentação digna dos deuses.

Mulher-Maravilha: Desafio dos Deuses (Wonder Woman Vol.2 #8 – 14: Challenge of the Gods) — EUA, setembro de 1987 a fevereiro de 1988
No Brasil: Lendas do Universo DC. Mulher-Maravilha – Volume 2 (Panini, 2017)
Roteiro: Len Wein, George Pérez
Arte: George Pérez
Arte-final: Bruce D. Patterson
Cores: Tatjana Wood, Carl Gafford
Letras: John Costanza
Capas: George Pérez
Editoria: Karen Berger

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