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Crítica | Parceiros da Morte (O Homem Que eu Devia Odiar)

por Luiz Santiago
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O californiano Sam Peckinpah começou sua carreira de diretor na televisão. Entre 1958 e 1960, ele dirigiu episódios de séries bastante queridas do público da época, como Broken Arrow, The Rifleman, Zane Grey Theater Klondike (a mais fraquinha de todas). Em 1960 o próprio Peckinpah criou uma sua série, The Westerner, que duraria apenas uma temporada, mas que seria decisiva para a passagem dele para as grandes telas.

Após o cancelamento de The Westerner, o ator Brian Keith foi convidado para atuar em um projeto cinematográfico, uma já polêmica adaptação do livro de Albert Sidney Fleischman, que teve bastante rejeição de outros produtores devido ao tema: durante toda a obra, uma mãe carrega o corpo do filho morto, dentro de um caixão, por um desértico território Apache, ao lado do homem que matou a criança. Keith gostou do enredo, mas disse que só aceitaria o papel se Sam Peckinpah, que o escalou para o papel principal de The Westerner, fosse o diretor. O produtor Charles B. Fitzsimons (irmão de Maureen O’Hara, a estrela do filme, e de James O’Hara, que também tem um papel na fita) conhecia o trabalho de Peckinpah na TV e concluiu que seria um diretor adequado para esse tipo de obra, aceitando então a contratação do novato.

O que temos em Parceiros da Morte / O Homem Que eu Devia Odiar é uma história forte e que mexe com complexos conceitos morais, afinal, estamos falando da morte de uma criança — por acidente, mas mesmo assim — e uma marcha lado a lado da mãe do menino com o assassino até a cidade-fantasma de Siringo, onde o pai do garoto estava enterrado. Só por este princípio, já podemos imaginar a proximidade com os temas que fariam parte da filmografia de Peckinpah, um popularmente conhecido “homem rude e nojento“, cujos gostos e forma de ver o mundo seriam plasmados em obras futuras, todas muito violentas, com requintes de crueldade. Aqui, porém, em seu filme de estreia, falta muita coisa da crueldade como mote. A violência existe, é verdade, mas o roteiro procura disfarçá-la, afastar dela o foco e direcioná-la para algo mais esperançoso, postura que, obviamente, irritou Sam Peckinpah ao ponto de ele prometer diante de toda a equipe que nunca mais dirigiria um filme sobre o qual não pudesse dar a opinião final a respeito do roteiro. E ele realmente cumpriu essa promessa.

O maior incômodo no texto de Albert Sidney Fleischman é a dissonância temática. Com o princípio denso que é a morte de uma criança e o que acontece depois, era de se esperar que o texto investisse nesse caminho e tornasse a saga pelo território Apache uma via crucis de fato penosa para o grupo. Mas isso só é parcialmente colocado na obra e mesmo assim, com uma certa maciez nas falas ou com uma ajudinha da montagem, que intercala cenas de tiros e violência com cenas de redenção e possível entendimento entre os errantes. Esse tipo de abordagem até poderia funcionar se houvesse de verdade um desenvolvimento do casal principal, mas não existe nenhuma mudança para eles, apenas a chegada a um acordo de coisas que, no íntimo da dupla, já estavam claras desde o início.

Na direção, Peckinpah já consegue mostrar um bom trabalho. Seu olhar preciso para a inserção dos personagens no ambiente fica muitíssimo claro aqui, tendo inclusive planos “incomuns” mas muito interessantes, como a entrada do Apache na caverna onde estava Kit (Maureen O’Hara), já no final. A mão do diretor também é sentida na condução dos atores, mesmo que o grande destaque do filme seja apenas Maureen O’Hara, que por incrível que pareça, não se relacionou bem com o diretor e chegou a escrever muitíssimo mal sobre ele em suas memórias.

Sam Peckinpah faz uma estreia no cinema que é uma mistura de histórias que ele sempre gostou de contar e de um romance com pitadas de Síndrome de Estocolmo que incomoda o espectador ao longo da obra. Mesmo isso pesando muito em alguns diálogos, fazendo com que diversas cenas destoassem por completo da história narrada (situação às vezes piorada por uma trilha sonora que, apesar de bela, é muito invasiva), o filme não chega a ser exatamente ruim. É um filme medíocre, que tem esse status não pela técnica ou condução, que são boas, mas pelo roteiro. Se Fleischman tivesse romanceado menos e não tentasse suavizar a dor, as coisas teriam sido bem diferentes.

Parceiros da Morte / O Homem Que eu Devia Odiar (The Deadly Companions) — EUA, 1961
Direção: Sam Peckinpah
Roteiro: Albert Sidney Fleischman (baseado em sua própria obra)
Elenco: Maureen O’Hara, Brian Keith, Steve Cochran, Chill Wills, Strother Martin, Will Wright, James O’Hara, Peter O’Crotty, Billy Vaughan
Duração: 93 min.

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