Episódio e Temporada
Contém spoilers! Confira outras críticas para os outros episódios aqui.
Um dos grandes prazeres da vida é ser positivamente surpreendido por alguma coisa. Em séries recentes, isso me aconteceu duas vezes, uma com a primeira temporada de Preacher, em 2016 e agora com Taboo, nesse início de 2017. Inicialmente, a ideia de vingança longeva de James Delaney, interpretado de maneira magnífica por Tom Hardy, parecia ser a intenção principal dos produtores, mas essa primeira ideia foi se abrindo cada vez mais, nos entregando também elementos políticos, históricos e até místicos.
Diferente do que se poderia imaginar de uma série com conteúdo histórico inserindo em seu enredo magia e afins, Taboo não faz das visões, vozes e espíritos em cena um apelo para que James, que é quem domina as regras desse Universo, vença suas batalhas através de “ajuda indireta”. Percebam que o fato de ele ser, de alguma forma, um feiticeiro, acaba sendo mais um caminho para crescimento do próprio personagem, que se comunica com animais e espíritos e consegue talvez ter maior resistência a falhas, cultivando a calma necessária para a batalha seguinte. É algo para ele, raramente para quem está à sua volta (a única “vítima” de sua feitiçaria foi sua meia-irmã, pra falar a verdade).
E neste último episódio da série — no momento em que escrevo essa crítica, dia 27 de fevereiro de 2017, a emissora ainda não confirmou a renovação –, temos uma verdadeira batalha e o plano arquitetado por James ser, enfim, executado. Percebam o quanto a direção de Anders Engström é ágil já nas primeiras cenas. A câmera adota caminhos de movimento diferentes e planificação também diferentes, especialmente no momento em que os red coats britânicos vão executar a ordem do príncipe regente e matar James.
Com uma montagem precisa e com um senso de continuação notável, os minutos finais do capítulo nos tiram o fôlego, oferecem um grandioso e belo caos e ajuda a criar uma plataforma que ao lado do roteiro, pode ser entendida de duas formas, ou como um excelente final de minissérie ou como um excelente final de temporada (series ou season finale). Depois do que foi realizado aqui, é penoso imaginar que a história de fato termine. Imaginar o que o navio dos “americanos” poderia fazer em Ponta Delgada, nos Açores e a óbvia conta que James quer acertar com Colonnade, um personagem apenas citado na série, só atiça a nossa vontade de ver mais Taboo em 2018.
A fotografia nos trouxe aqui momentos de maior luz do que em qualquer outro capítulo da série. Como temos um episódio estruturalmente diurno, o uso de cores e a brincadeira com a intensidade de luz nos espaços vai crescendo, até chegar a composições estéticas muito bonitas e muito distintas entre si, como a última cena com Brace sozinho em casa; do príncipe regente ordenando ao seu secretário Coop que matasse James; de Strange recebendo o contrato final de Nootka e, ao que ele imaginava, a assinatura de James para o comércio de chá na China.
Em outra parte da linha de eventos, o encontro dele com Dumbarton dava sinais de que seguiria, de fato, para um caminho violento, mas nada com aquele requinte de violência. Para mim, essa foi uma das melhores janelas dramáticas (e paralelas à principal) a ser fechada pelo roteiro. E vejam que este bloco nos leva para a Companhia das Índias, então acaba fazendo parte de uma sequência bastante densa de coisas.
A esta altura, falar da ótima atuação de Hardy é chover no molhado, mas eu jamais deixaria de destacar a cena em que ele lê a carta de Zilpha e entra em luto, na frente de Lorna, chorando… algo que não imaginávamos que poderia acontecer. Há uma força tremenda naquela cena e mesmo assim, o ator a interpreta com um doçura imensa, passando uma dor real, que todos sentimos, talvez pela primeira vez, o impacto do suicídio da perturbada mulher.
Da saída de James da Torre de Londres até a partida de seu barco, temos neste episódio uma das melhores peças dramáticas em séries de conteúdo histórico. A narrativa não é apressada, mas também não demora a entregar os destinos dos personagens ou explicar deixas passadas. O tempo certo para cada ação, a coragem de matar personagens importantes e a alternância entre momentos de grande tensão e incertezas, com cenas de enfrentamento direto entre as partes (e aqui não dá para falar de mocinhos e bandidos) são os motivos pelos quais nosso coração vai batendo cada vez mais forte ao longo dos 60 minutos de projeção. Até George Chichester tem um grande espaço no desfecho, com os papéis assinados e a justiça que ele buscava tornando-se real.
Talvez em meio à enorme brutalidade, ainda há alguma esperança e espaço para idealismos nesse mundo. As apostas para o futuro do navio de James são o maior exemplo, quer aconteçam, que permaneçam como especulação. Depois de todo um caminho de sangue e traições, a mais aleatória das tripulações segue para o Novo Mundo… Ainda há muita coisa para sair daí, vocês não acham?
Taboo – 1X08: Episode #1.8 (EUA, Reino Unido, 25 de fevereiro de 2017)
Direção: Anders Engström
Roteiro: Steven Knight
Elenco: Tom Hardy, Oona Chaplin, Jonathan Pryce, Danny Ligairi, Edward Hogg, Louis Ashbourne Serkis, Jessie Buckley, David Hayman, Tom Hollander, Stephen Graham, Richard Dixon, Leo Bill, Elizabeth Conboy, Tallulah Rose Haddon, Franka Potente, Jason Watkins, James Oliver Wheatley, Scroobius Pip, Tom Godwin, Marina Hands, Mark Gatiss, Michael Kelly, Lucian Msamati
Duração: 60 min.