Toda crítica cinematográfica deveria, pelo menos em tese, levar em consideração a proposta do filme para fazer uma análise mais precisa e honesta. O Estrangulador Seboso, uma das possíveis traduções do título original em inglês, mas que teria fico melhor como “Engordurado” ou “Gorduroso” no lugar de “Seboso”, já deixa clara a intenção de uma abordagem jocosa. Em cinco minutos de filme, fica evidente que estamos diante uma proposta que mistura comédia com um foco trash que tenta ao máximo enojar o espectador.
É um filme para poucos, que exige estômago para apreciar um homem de meia idade e um mais idoso (pai e filho) andando de uma lado para o outro ou apenas de cuecas, ou completamente pelados ou ainda com a roupa rosa que escolhi para ilustrar a presente crítica. E isso quando Jim Hosking, que dirige seu primeiro longa e que também co-escreveu a obra, não descamba para suas sucessivas tentativas de revoltar o estômago do espectador com imagens que vão desde a vontade constante de Big Ronnie (Michael St. Michaels) de comer comida com doses cavalares de gordura, até quando o Estrangulador Seboso do título aparece e arranca os olhos de suas vítimas.
Mas será que Hosking alcança seu objetivo aqui?
Creio que a resposta mais honesta seja sim, mas somente por algum tempo. Sem dúvida alguma, a pegada trash da fita terá seus apreciadores e ela realmente funciona na meia hora inicial para fisgar seu público. Nojeira e non-sense em uma receita que equilibra bem as doses de cada uma e resulta em um começo, digamos… apetitoso…
No entanto, Hosking acaba se perdendo.
O roteiro, a partir do segundo terço, começa entrar em uma espécie de espiral auto-destrutiva que só repete a estrutura do que veio imediatamente antes. É como pegar a mesma receita, trocar os ingredientes por outros equivalentes e apresentar como algo completamente novo. As ações do Estrangulador Seboso, cuja identidade não é mantida em segredo e nem é o objetivo, se intensificam e, com isso, se banalizam, logo perdendo o semblante da graça inicial. As bizarrices aumentam, é verdade, quando Big Brayden (Sky Elobar), filho de Big Ronnie, arruma uma namorada (Elizabeth De Razzo), mas não é nada particularmente interessante ou até mesmo engraçado. Ou, pelo menos, não é engraçado para a audiência, parecendo muito mais aquele amigo que conta uma piada e ele mesmo morre de rir enquanto você luta para esboçar sequer um sorriso.
E, então, Hosking termina de se embananar ao forçar uma estrutura episódica que consiste em apresentar um novo personagem somente para matá-lo alguns minutos depois. É a tal receita com ingredientes trocados novamente, que deixam o exato mesmo gosto na boca e acabam enjoando, mas não de maneira positiva como filmes trash podem enjoar.
Havia material para um belo curta-metragem, jamais para um longa de pouco mais de 1h30′. St. Michaels e Elobar formam uma boa e asquerosa dupla, mas não conseguem sustentar mesmo uma estrutura dramática como esta. Grande parte da culpa repousa no roteiro e também na direção burocrática e quase “televisiva” de Hosking, que cisma em usar completamente desnecessários establishing shots para determinar onde a ação se passa a cada segmento.
O Estrangulador Seboso arrisca divertir por alguns minutos, mas muito rapidamente perde sua verve e acaba se tornando um filme preso em sua própria e restritiva premissa que luta para inovar, mas acaba se repetindo e tentando agraciar seu público pronto para ver nojeiras e escatologias, público esse que tem material muito melhor para procurar por aí. Para terminar com um daqueles trocadilhos infames que críticos de cinema adoram fazer, O Estrangulador Seboso tem gordura demais e carne de menos.
O Estrangulador Seboso (The Greasy Strangler, EUA – 2016)
Direção: Jim Hosking
Roteiro: Toby Harvard, Jim Hosking
Elenco: Michael St. Michaels, Sky Elobar, Elizabeth De Razzo, Gil Gex, Abdoulaye NGom, Holland MacFallister, Sam Dissanayake, Joe David Walters, John Yuan, Matt Yuan
Duração: 94 min.