O primeiro longa-metragem do australiano Nicholas Verso, Os Garotos nas Árvores, nos traz uma história sobre as pessoas que deixamos para trás em nossas vidas e o impacto que esse abandono pode trazer não somente para elas, como para nós próprios. Um filme que mira direto no centro da amizade e que nos traz um belo olhar sobre ela, mas que acaba se perdendo em alguns focos desnecessários e outras escolhas artísticas que quebram nossa imersão consideravelmente. Ainda assim, uma projeção que certamente atingirá a qualquer um que tenha passado por situação parecida, infelizmente, a maioria de nós.
Acompanhamos Corey (Toby Wallace), um menino que acabara de terminar a escola e que agora se encontra em um momento decisivo em sua vida: ele permanecerá junto de seus amigos skatistas que, de fato, não entendem suas aspirações artísticas, ou irá se mudar para Nova York e entrar no curso de fotografia da NYU? Nessa última noite de Halloween, o protagonista é forçado a viver esse dilema, ao mesmo tempo que reacende uma amizade há muito deixada para trás, entre ele e Jonah (Gulliver McGrath), um amigo de infância que realmente consegue o entender.
Os Garotos nas Árvores nos traz um tocante retrato sobre como nossa vida pode progredir de maneira que foge ao nosso controle. Muitas vezes seguimos por um caminho por mera conveniência, entramos em grupos que, de fato, nada tem a ver conosco somente para fazermos parte de um círculo social e, nesse processo, escondemos nossa individualidade, nos tornando apenas mais um rosto dentro de muitos. O filme consegue nos trazer essa visão da amizade de forma ao mesmo tempo realista e romântica – o presente se demonstra de forma natural, enquanto o passado se apresenta de maneira nostálgica, de fato, como alguém que olha para trás à beira de uma grande mudança.
Essa é uma obra sobre a transição da infância para a vida adulta. Corey não será mais um garoto muito em breve e temos nesse Halloween praticamente um ritual que define essa cisão, colocado através da brincadeira entre ele e Jonah: um último momento como menino antes de se tornar um homem. Infelizmente, essa questão acaba sendo diluída através do foco desnecessário na paixão do protagonista e alguns elementos fantásticos que quebram o interessante realismo que fora estabelecido antes. Há uma adoção de elementos de filme de terror e esses estão presentes, em geral, na mente dos personagens, mas, quando se apresentam na realidade deles, esse foco no psicológico é quebrado, criando uma sequência que soa distante do restante da obra.
Além dessa ruptura em nossa imersão na narrativa, existe a previsibilidade do maior ponto de virada do roteiro, o que diminui sua eficácia na cena. Isso ainda é piorado através dos inúmeros desfechos que o filme apresenta, quase uma indecisão do diretor em saber onde exatamente deve terminar seu filme, gerando apenas um cansaço no espectador, que fica ansiando pelo término da projeção a cada final que assiste.
Os Garotos nas Árvores é uma bela história sobre amizade e a transição para a vida adulta, mas cuja narrativa acaba ficando superlotada de elementos desnecessários, que tiram o foco do que realmente importa. Trata-se de uma obra com enorme potencial, mas que não atinge nem metade do que poderia realizar. Felizmente, ainda consegue tocar seu espectador, fazendo-o pensar nas amizades que deixara para trás e no que poderia ter feito de diferente em sua vida e, por isso, já vale o ingresso do cinema.
Os Garotos nas Árvores (Boys in the Trees) – Austrália, 2016
Direção: Nicholas Verso
Roteiro: Nicholas Verso
Elenco: Toby Wallace, Gulliver McGrath, Mitzi Ruhlmann, Justin Holborow, Henry Reimer Meaney, Jayden Lugg
Duração: 112 min.