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Crítica | Wiener-Dog

por Guilherme Coral
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estrelas 3,5

Marcado pelo forte humor negro, Wiener-Dog, do diretor Todd Solondz, é mais uma empreitada da Amazon Studios nos cinemas. Dessa vez, a aposta é em um filme de estrutura capitular, contendo quatro contos unidos pelo dachshund, que passa de dono em dono, cada um nos contando uma história triste diferente. Essa tristeza, porém, nunca nos atinge em virtude do tom irônico do filme, transformando o drama em comédia em uma divertida história sobre lições de vida e o encontro de seu próprio papel no mundo.

De fato, o cachorro que dá nome ao filme é na verdade uma mera desculpa para nos trazer essas diferentes histórias. De um garoto que luta contra o câncer, passando por uma veterinária frustrada, um roteirista sem talento e, enfim, uma senhora amargurada com a vida, Wiener-Dog conta com principalmente sua atmosfera para manter a coesão da narrativa. O roteiro de Solondz consegue trabalhar nesses diferentes capítulos de forma interessante, garantindo um início, meio e fim para cada uma delas, por mais que elas não durem mais que vinte minutos. É notável também como ele consegue unir o desfecho ao início da projeção, em um tom cíclico e sarcástico.

Esse humor peculiar aparece por meio de diferentes formas ao longo da obra, não se limitando apenas aos diálogos. Muitas vezes um mero olhar da pequena cadela cria essa comédia, ao passo que o diretor, algumas vezes, a humaniza. A música e a câmera lenta também estão presentes, cada uma cumprindo com exatidão seu papel dentro da narrativa. Um bom exemplo é a canção tema do segundo “capítulo”, que ironiza as situações que enxergamos na tela. O engraçado é que são todos temas bastante pesados os abordados, mas não conseguimos não rir dessas diferentes situações. Trata-se de um filme que facilmente poderia se tornar um drama, mas isso não acontece.

Nesse quesito a dachshund é muito importante, pois inúmeras vezes quebra nossas expectativas ao transformar um momento inteiro em algo completamente fora do normal, tirando risadas certeiras de nós. Evidente que todo o elenco se destaca pelo seu trabalho no filme, trazendo interpretações bastante críveis com as quais conseguimos nos relacionar. Cada um ainda representa diferentes estágios em nossas vidas: a infância, quando aprendemos difíceis concepções sobre a vida; a juventude, repleta de indecisões e paixões; a vida adulta, na qual temos de encarar as dificuldades do caminho escolhido por nós e, enfim, a velhice, que nos faz pensar na forma como levamos nossas vidas até aqui.

Essas temáticas centrais ainda são acompanhadas por outros fatores de nosso dia-a-dia, como o casamento problemático, a hipocrisia, pressão profissional e o estranho relacionamento com familiares que somente aparecem na hora da necessidade. Dessa forma, é criado um pluralismo bastante profundo na trama, sempre disfarçado pelas constantes doses de humor que permeiam todo o longa-metragem.

A estrutura capitular, contudo, acaba criando um pequeno problema ao quebrar nossa imersão nas mudanças de personagens, mais especificamente quando a transição não é feita de forma orgânica como entre o primeiro e o segundo ato. Há um interlúdio bem-humorado na metade da projeção a fim de mascarar esse fator, mas ele acaba somente prejudicando mais a fluidez da obra. Nada gigantesco, mas que sentimos com clareza.

Apesar desse problema, Wiener-Dog é um divertido filme sobre a vida e como ela pode nos dar inúmeras pancadas ao longo dos anos. Com uma atmosfera que mistura temáticas bastante pesadas com uma comédia sarcástica, a obra de Todd Solondz consegue, mesmo com os tropeços, nos divertir do início ao fim, contando com uma carismática cadela e um ótimo elenco para nos manter na sala do cinema.

Wiener-Dog — EUA, 2015
Direção:
 Todd Solondz
Roteiro: Todd Solondz
Elenco: Greta Gerwig, Keaton Nigel Cooke, Tracy Letts, Julie Delpy, Kieran Culkin, Rigoberto Garcia, Danny DeVito
Duração: 88 min.

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