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Crítica | Yoga Hosers

por Guilherme Coral
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estrelas 4,5

Já virou regra: todo Festival do Rio eu assisto um filme que se destaca na multidão por ser uma viagem completa. Há dois anos atrás esse foi Primavera, já em 2015 foi a vez de Apocalipse Yakuza e, agora, em 2016, essa posição facilmente vai para Yoga Hosers, que duvido muito que algum outro filme supere no quesito uso de drogas pesadas pelos realizadores. Antes de começar a crítica em si já aviso esse não é um filme para todos, mas se você gosta de Kevin Smith e, como diria nosso editor Ritter Fan “trasheira retardada” (algo que nós dois adoramos), então esse é o longa-metragem que você estava procurando.

Antes de mais nada vamos ao título Yoga Hosers – o que é Hoser? Basicamente é o termo utilizado para definir pessoas que imitam canadenses e é justamente isso que as personagens principais, as Colleens (interpretadas por Lily-Rose Depp e Harley Quinn Smith). De fato, nessa segunda parte da Trilogia do True North (ou Verdadeiro Norte em tradução livre) de Kevin Smith, todos são hosers, uma brincadeira de Smith com os canadenses que começara em Tusk – primeira parte da trilogia. Já começo dizendo que, se você aprecia obras como South Park ou How I Met Your Mother, então certamente todo e qualquer aboot (about) que ouvir trará risadas certeiras.

Esse tom fortemente irônico permanece durante toda a projeção, mas como não poderia? Afinal, a trama gira em torno de duas meninas que trabalham em uma loja de conveniência (eu ouvi Clerks?) em uma pequena cidadezinha do Canadá, que passa a ser assolada por nazistas miniaturas, ou bratzis (interpretados pelo próprio Kevin Smith), que falam alemão e matam as pessoas entrando pelas suas bundas e subindo até a boca. Exatamente isso que você leu, I shit you not! Utilizando seus poderes de yoga, cabe às Colleens acabarem com essa ameaça nazi-canadense.

Nessa sua completa viagem, Smith nos traz uma forte crítica bem-humorada, ainda que com uma comédia bastante ame ou odeie, a diversos aspectos de nossa sociedade. As duas personagens principais funcionam como extensão uma da outra e representam a típica garota adolescente, como se o diretor brincasse com o fato de ter uma filha nessa idade (a própria Harley Quinn, afinal, com esse nome, quem poderia ser o pai?). Elas não largam o telefone a qualquer momento e tudo o que acontece postam imediatamente no Instagram, cuja versão fictícia, Instacan (a versão canadense do app), pipoca na tela de vez em quando nos mostrando o que elas acham de determinado personagem.

Tanto Harley Quinn quanto Lily-Rose Depp desempenham seus papeis com exatidão, são a figura da adolescente e em cada frase proferida sentimos um forte tom sarcástico. Além disso, elas contam com uma inegável química em tela e soam exatamente como o mesmo personagem dividido em duas pessoas, o que de fato elas foram escritas para serem – o nome igual não é mera coincidência, obviamente. As sequências musicais envolvendo as duas também são outro ponto alto da obra, nos trazendo uma maravilhosa versão de O Canada

O diretor/ roteirista ainda traz uma versão escrachada da yoga, evidentemente mirada nesse surto pela qual a atividade passou nos últimos anos. As diferentes posições ganham nomes como a revolta de atlas, cliente insatisfeito ou o guerreiro, muito bem representando que a fonte da comédia do filme vem, principalmente através dos diálogos e das situações inacreditáveis que assistimos. Quando os mini-nazis, enfim aparecem ou você sai da sala do cinema imediatamente ou fica totalmente apaixonado por essa obra que não acredita que possa existir.

Evidentemente o roteiro conta com seus problemas, como o surgimento do personagem Guy Lapointe (Johnny Depp, irreconhecível no papel), que aparece muito convenientemente apenas para oferecer explicações didáticas ao espectador. Sequer há uma justificativa para ele falar especificamente com as Colleens. A resolução ainda se desenrola de forma rápida e de forma um tanto previsível, por mais que o antagonista seja simplesmente genial com suas personificações de atores como Al Pacino e Adam West.

Yoga Hosers é um típico filme “ame ou odeie”, não há meio termo. É uma completa viagem que simplesmente precisa ser assistida por fãs desse tipo de longa-metragem. Mesmo com seus deslizes no roteiro é uma obra verdadeiramente memorável (mesmo se você a ter odiado), que quebra completamente nossas expectativas. Uma verdadeira comédia escrachada e sarcástica do tipo que somente Kevin Smith consegue fazer.

Yoga Hosers – EUA, 2016
Direção:
Kevin Smith
Roteiro: Kevin Smith
Elenco: Lily-Rose Depp, Harley Quinn Smith, Adam Brody, Harley Morenstein, Ashley Greene, Johnny Depp, Kevin Smith, Stan Lee, Jason Mewes
Duração: 88 min.

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