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Crítica | Doctor Who: O Dispositivo da Morte, de Christopher Bulis

por Luiz Santiago
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Equipe: 4º Doutor, Sarah, Harry
Espaço: Planeta Jand / Lua do planeta Averon / Nave militar Oranos / Instalação secreta de pesquisa bélica Deepcity
Tempo: 3800 (?)

Este livro é uma das peças mais inconstantes dentre os títulos de Doctor Who que li até o momento. Ele começa de maneira excelente, com um bom prólogo e bons primeiros capítulos, tendo o autor Christopher Bulis articulado com eficiência uma das mais improváveis brechas da Série Clássica, o espaço entre o final de Genesis of the Daleks e o início de Revenge of the Cybermen, mas o clímax é corrido, meio jogado, escrito sem a precisão de todo o restante da obra, o que é uma lástima.

Percebam que imediatamente temos a explicação do erro gerado pelas viagens com o time ring, que deveria levar o Doutor, Sarah e Harry novamente para The Ark In Space, mas não foi isso que aconteceu. A presença do mesmo Time Lord de Genesis of the Daleks fecha bem o ciclo, e o final de toda a obra nos dá um forte indício de que os robôs dessa “nova geração” deixados pelos viajantes se tornarão os Movellans, de Destiny of the Daleks.

Após deixar o Planeta Skaro, viajando através do time ring, o trio esbarra no Aglomerado Adelphine, e cada um é colocado em um lugar diferente dessa vizinhança espacial. Harry se materializa na zona de guerra do Planeta Jand. Sarah, em uma Lua do planeta Averon. O Doutor, em um instalação secreta de pesquisa bélica chamada Deepcity, um lugar do qual ninguém pode sair para que os segredos do que é criado dentro da instalação jamais sejam revelados. Claro que em um ambiente assim, um grande número de segredos e fingimentos podem ser fomentados e ganhar força, já que a checagem disso se torna impossível. Ou muito improvável de acontecer.

Essa primeira parte da apresentação é muito interessante. Ver a descrição de cada espaço, a presença dos companheiros do Doutor e do próprio Time Lord — com perda parcial de memória — se adaptando e tentando seguir as regras locais ao mesmo tempo que buscam uma forma de fugir, contactar os outros é um bom exercício, muito parecido com o que tivemos ao longo da 12º Temporada. Aliás, o clima de integração com esse ponto da série é bem explorado até a metade do livro. Como essa linha de livros é chamada Virgin Missing Adventures, sabemos que os autores sempre procuram fazer com que os livros possam contar como um adendo lógico à temporada onde aparecem. No presente caso, tanto a escrita para o Doutor e os companions, quanto a forma de criar um inimigo para ser combatido funciona bem. Há um pouco de Robot e de The Sontaran Experiment na abordagem bélica, além dos pequenos jogos que cobram boas estratégias dos lados em combate.

O único personagem que eu não consegui ter uma opinião exata sobre se gostei ou não é o Mobile Armed Auxiliary (ou Max). Como já comentei, há grande similaridade com Robot na criação dessa trama, e em um primeiro momento isso vai muito bem. Do meio do livro em diante, quando as primeiras revelações acontecem (única exceção aqui é a genial aparição de Mogul of Tralsammavar que, junto com seus assistentes, querem negociar a compra de armas com Kambril, o diretor de Deepcity), fica difícil gostar de Max, especialmente pelo protagonismo afetado que ele tem, com aquele discurso de “sejam como eu!” no final. Difícil aceitar esse tipo de transformação.

O Dispositivo da Morte é, no todo, uma boa leitura. Pelo menos metade da obra é muito bem escrita e existem surpresas e aparições bem interessantes de ser considerar nessa fase inicial da linha do tempo do 4º Doutor. Mesmo com a rapidez e resoluções meio descaraterizadas no final, o texto mostra o horror da guerra até em sua forma ideal; o que isso causa aos homens e o que ela dá aos grandes “Senhores de Armas”, que enriquecem com o medo e morte de milhões de pessoas. Infelizmente, esse é um cenário nós conhecemos muito bem.

Doctor Who: O Dispositivo da Morte (A Device of Death) — Reino Unido, 20 de fevereiro de 1997
Autor: Christopher Bulis
Publicação original: Virgin Books
260 páginas

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