Assim como a primeira parte da Trilogia Fundação, este segundo volume é uma compilação parcialmente reescrita e cronologicamente ajustada pelo próprio Asimov para caber no imenso cânone de seu Universo sobre o Império Humano, sua decadência, período de trevas e eventual reerguida. A obra é dividida em duas partes, O General e O Mulo, mas foi originalmente publicada em separado. Ambas surgiram na revista Astounding Science-Fiction (posteriormente chamada de Analog Science Fiction and Fact); a primeira em abril de 1945, sob o título de Mão Morta; e a segunda, nas edições de novembro e dezembro daquele mesmo ano, já sob o título de O Mulo.
No primeiro bloco destaca-se o General Bel Riose, forte líder militar do decadente Império Galáctico, uma possível luz no fim do túnel, talvez capaz de manter os planetas dissidentes da periferia nas mãos do Imperador Cleon II (sátira de Justiniano, o Imperador bizantino). Bel Riose, também inspirado em um personagem bizantino, da corte de Justiniano, o General Belisário, tem ideais de grandeza que vão além do que a psico-história permite, e é claro para o leitor que suas tentativas de chegar à Fundação e derrotar as previsões de Seldon são fruto de uma mente jovem e febril, no máximo uma das crises previstas pelo ícone da Fundação a anos.
Mesmo sendo esta primeira parte a mais fraca do volume, ela funciona melhor do que a bagunça narrativa de parte de Fundação. De certa forma, o autor continua a narrativa do momento em que ela parou no primeiro livro, ou seja, cerca de 195 E.F. (Era da Fundação), e arquiteta uma inteligente tomada de poder, estabelecendo um cenário de guerra instigante, mas que só seria realmente bem trabalhado na segunda parte, que termina com a busca pela Segunda Fundação, em cerca de 300 E.F. Identificamos aí o mesmo impasse do primeiro livro, que é o deslocamento muito aberto dos personagens e uma maior dificuldade de o leitor ver o mapa completo, não com explicações a perder de vista, é claro, mas com informações necessárias para entender todo o contexto daquele momento. Evidentemente isso é devido à publicação original ter sido em separado.
A segunda parte, porém, supera com folga a primeira e cria um cenário coerente, muito bem escrito e completo sobre a definitiva queda do Império Galáctico, a ascensão do Mulo, a extensa fuga de Toran, Bayta, Magnífico ( o palhaço do Mulo) e Ebling Mis, além de trazer uma insuperável reta final de eventos, com as cartas na mesa sobre o Mulo — talvez exposta muito didaticamente, mas não de forma ruim –. Temos ainda todo um misterioso caminho para a “grande revelação” do volume e as bem vindas reticências sobre o trajeto a ser seguido por Toran e Bayta, agora que a Segunda Fundação, a verdadeira e principal, precisa ser encontrada, às cegas, na extremidade da galáxia. O cliffhanger para o terceiro livro é preciso e definitivamente desafiador.
No todo, Fundação e Império traz um considerável avanço de Asimov na construção do drama e desenvolvimento dos personagens, principalmente na segunda parte. O livro explora bastante os conceitos de viagem espacial em uma sociedade com diferentes graus de avanço tecnológico (mas todas, muito à frente do nosso tempo); necessidade de energia/combustível e lutas pelo poder quando há muito mais do que terras, dinheiro e governo em jogo. Tudo isso marcado pela criação de um dos personagens — e uma surpresa — mais interessantes da série: o Mulo.
Fica para o leitor a curiosidade pelo acontecerá com a Galáxia. O plano de Seldon funcionará? A psico-história ou a psicologia, ciência em destaque na Segunda Fundação, poderão lidar com um mutante que move os sentimentos das pessoas? Como sempre, a espera pela aurora de um novo tempo traz perguntas sem respostas, angústia e desespero. E é com isso que o autor nos deixa, na última página. Uma boa escolha. Um passo e tanto para a leitura de Segunda Fundação.
Fundação e Império (Foundation and Empire) — Estados Unidos, 1952
Autor: Isaac Asimov
Lançamento no Brasil: Editora Aleph, 2009
Tradutor: Fábio Fernandes
244 páginas