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Crítica | Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança

por Guilherme Coral
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estrelas 2,5

Uma verdadeira bomba cinematográfica, o primeiro Motoqueiro Fantasma, apesar de ser amplamente criticado (por críticos e fãs), ainda conseguiu ser um sucesso de bilheteria, o que, naturalmente, faria os produtores rapidamente pensarem em uma continuação e, de fato, quatro anos depois ela veio. Estamos falando, porém, de 2011 e o mundo já havia visto O Cavaleiro das Trevas, Homem de Ferro e o consequente sucesso do Universo Cinematográfico Marvel – os padrões estavam mais altos e não é à toa que chamaram David S. Goyer para desenvolver a história (e posteriormente trabalhar no roteiro ao lado de Seth Hoffman e Scott M. Gimple, atual showrunner de The Walking Dead), afinal, Goyer fora um dos responsáveis pelo texto da trilogia do Batman de Nolan.

Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança, contudo, não é apenas uma continuação, ela é praticamente um reboot do personagem no cinema, com uma história de origem resumida nos primeiros minutos do filme, que conta com algumas diferenças do que vimos no primeiro longa-metragem (e não me refiro apenas ao ator de Mefistófeles/ Roarke, que aqui é vivido por Ciarán Hinds). De fato, não precisamos sequer termos visto o original para entendermos Espírito da Vingança plenamente – não que isso seja algo muito difícil, considerando que se trata de um filme de ação bastante genérico.

A trama tem início com uma invasão a um mosteiro. Um grupo armado está atrás de um menino, que é protegido por sua mãe, Nadya (Violante Placido) e Moreau (Idris Elba), que, aparentemente, conta com um certo conhecimento acerca do Motoqueiro Fantasma, que considera ser a única esperança do menino. E Johnny Blaze (Nicolas Cage), convenientemente, em sua jornada tentando fugir do demônio dentro de si, encontra-se justamente na Europa Oriental, onde a ação da primeira sequência ocorre. Não é preciso dizer que Moreau o encontra e o coloca no caminho para salvar o garoto e ir contra ninguém menos que o próprio Roarke, que tem um grande interesse no jovem.

Espírito de Vingança certamente conta com algumas escolhas artísticas interessantes. Os flashbacks realizados de forma a mimetizar uma graphic novel conseguem fisgar nossa atenção totalmente, contando de forma sucinta determinados aspectos da história (que já vimos no outro filme). Algumas inserções ocorrem nos lugares errados, provocando certas quebras de ritmo na narrativa, mas, em geral, esse problema é gerado por outras escolhas do roteiro. E, de fato, consiste no maior deslize do filme.

Quando chegamos a cinquenta minutos de projeção sentimo-nos como se estivéssemos no desfecho da obra, quando ainda resta praticamente a metade. A mudança de antagonista em meados do longa provoca essa sensação, criando uma estrutura episódica no filme, que facilmente poderia ser dividido em duas partes (algo que, inclusive, beneficiaria sua narrativa). Essa quebra de ritmo gritante praticamente nos força a ter de nos acostumar com a obra novamente, nossa imersão é quebrada de tal maneira que a vontade de fazer uma pausa é praticamente unânime e estamos falando de uma obra de apenas 96 minutos. Por essa razão, apesar de ser divertido, Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança simplesmente não se sustenta como um longa-metragem.

O filme, porém, acerta consideravelmente mais que o primeiro, apesar de eu apenas ter dado uma estrela a mais – veja, as críticas não são feitas de forma comparativa. Uma das maiores evidências disso é uma amenização óbvia de atuações dramáticas. Aqui tudo funciona de forma mais realista e menos teatral, com apenas alguns espasmos de Nicolas Cage, mas nada de jujubas pelo menos e dentes batendo pelo menos. Curiosamente o Motoqueiro em si retém aspectos do drama do filme anterior, o que nos faz revirar os olhos em alguns pontos. Felizmente o trabalho de efeitos especiais aqui decidiu adotar algo mais “pé no chão” (se é que eu posso falar disso me referindo a uma caveira em chamas que anda de moto e joga correntes por aí). Além do fogo em si estar melhor animado, o crânio escurecido dá um ar mais realista ao personagem. A presença mais constante da fumaça também ajuda, mascarando a artificialidade do fogo, visto que esse é dificílimo de se realizar em CGI. Tudo isso faz com que perdoemos os gestos exagerados e as frases de efeito do Motoqueiro (ainda que roadkill tenha sido gravado em minha mente de forma bastante positiva).

Além disso, a obra consegue trabalhar melhor os poderes do personagem. Ele é extremamente mortal, consideravelmente mais que o primeiro, considerando que suas correntes pulverizam aqueles que encostam, mas ele não soa tão invulnerável quanto antes – ainda que bem próximo disso. As sequências de ação também são mais criativas, embora algumas delas sejam muito longas, ampliando nossa percepção da quebra de ritmo.

No fim, Motoqueiro Fantama: Espírito de Vingança consegue ser muito superior ao original, mas ainda não é a adaptação cinematográfica que o personagem certamente merece. Assim como O Justiceiro, que somente se encontrou na segunda temporada de Demolidor, da Netflix, o Motoqueiro é muito subutilizado e o que ganhamos aqui é um longa-metragem com sérios problemas de ritmo, com cenas de ação muito longas e uma história, que com mais cuidado, poderia nos oferecer muito mais que essa obra bastante genérica.

Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança (Ghost Rider: Spirit of Vengeance) – EUA/ Emirados Árabes, 2011
Direção:
 Mark Neveldine, Brian Taylor
Roteiro: Scott M. Gimple, Seth Hoffman, David S. Goyer
Elenco: Nicolas Cage, Ciarán Hinds, Idris Elba, Violante Placido, Johnny Whitworth, Fergus Riordan, Spencer Wilding, Christopher Lambert
Duração: 96 min.

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