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Crítica | Mad Men – 5ª Temporada

por Ritter Fan
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estrelas 5,0

ATENÇÃO: O texto a seguir contem inevitáveis spoilers das temporadas anteriores, mas não da quinta temporada. Boa leitura!

Depois de longuíssimos 17 meses de hiato gerado por discussões monetárias que poderiam afetar sua continuidade, Mad Men voltou às telinhas para sua quinta temporada em 25 de março de 2012.  O bom disso tudo é que a AMC já autorizou, também, mais duas temporadas.

Da última vez que vimos o genial e mulherengo publicitário Don Draper (Jon Hamm), ele havia se casado com sua bela secretária Megan (Jessica Paré) depois de uma temporada inteira deprimido com seu divórcio de Betty (January Jones). A ideia que fica é que ele vai dar a volta por cima e focar sua atenção na ainda frágil agência que montou com seus sócios, Sterling Cooper Draper Price (SCDP).

No entanto, o que vemos é um Don Draper completamente mudado, apaixonado mesmo pelo que talvez possa ser classificado como seu “novo brinquedinho”. Fica para a imaginação e para o excelente último minuto do último episódio, saber se seu casamento com Megan resistirá por muito tempo. Mas a verdade é que a paixão toda demonstrada pelo casal acaba afastando Don ainda mais do trabalho. Ele só pensa em viver nas nuvens com sua esposa e larga a agência de lado. Megan, por sua vez, apesar de manter-se trabalhando lá, como parte dos “criativos”, deseja, secretamente, seguir sua carreira de atriz.

Peggy Olsen (Elisabeth Moss) quer porque quer agradar Don e deslanchar em sua carreira. No entanto, ela não recebe, de seu chefe, o feedback que precisa e começa a ficar desanimada. Joan Harris (Christina Hendricks), por sua vez, tem problemas pessoais para enfrentar mas, como sempre, veste a camisa da agência a todo momento.

Pete Campbell (Vincent Kartheiser) solidifica-se como o grande rainmaker da agência, fazendo de tudo – mesmo – para conseguir clientes novos. Mas sua personalidade extremamente ambiciosa o coloca em rota de colisão com vários de seus sócios, especialmente Roger Sterling (John Slattery) e, em uma sensacional cena mais para frente na temporada, Lane Pryce (Jared Harris).  O próprio Roger, por sua vez, mantém seus hábitos boêmios e continua deixando a agência em terceiro plano. Para ele, whisky e mulheres vêm na frente.

Mais do que os dramas pessoais, o que chama mesmo a atenção na quinta temporada é a estrutura proposta pelo criador Matthew Weiner. As quatro temporadas anteriores tinham, pelo menos em linhas gerais, um tema central que era desenvolvido ao longo dos vários episódios com menos ou mais destaque. É a estrutura clássica de séries dessa natureza. No entanto, na nova temporada, a impressão que deu é que Weiner resolver sacrificar eventual temática una para focar em episódios soltos, cada um com seu tema.

No começo, devo confessar que achei estranho o desenrolar – ou melhor, a falta do desenrolar – de uma trama central, mas, a cada episódio novo, ficava mais evidente o brilhantismo da equipe de escritores, algo que já havia sido sobejamente demonstrado no material que veio antes. A estrutura de “um tema/um episódio” por vez permitiu um alto grau de flexibilidade aos roteiristas, que não precisavam ficar presos às amarras de uma “história principal”. É claro que estamos falando de Mad Men e, portanto, tudo que tornou a série o que ela é está lá, intacto. Há uma base central, mas ela é mais distante, menos invasiva ou dirigista.

Com isso, talvez mais do que nas demais temporadas, há uma profusão de episódios memoráveis. Os primeiros dois capítulos, lançados simultaneamente, deixam entrever as várias temáticas menores que, mais tarde, seriam desenvolvidas na série. A tensão entre Pete e Roger fica evidente logo de início, assim como o quanto Don e Megan se gostam. Mas também fica claro que Megan tem um estilo muito diferente de seu marido, conforme demonstra a já antológica cena em que ela, na festa surpresa de Don, dança e canta Zou Bisou Bisou.

O episódio quatro, Mystery Date, consegue ser eletrizante quando notamos que Don está sendo perseguido por alguém do seu passado. A sequência em que ele “lida” com o problema é de literalmente tirar o fôlego de tão bem editada e atuada por todos os envolvidos. Na trama paralela, vemos Joan tomar uma decisão que ecoaria mais para frente. Signal 30, o quinto episódio, trata da insegurança de Pete que, agora, mora no subúrbio de Nova Iorque e deseja, mais do que qualquer outra coisa, voltar para a cidade. A forma como ele e a esposa Trudy (Alison Brie) fazem uma festa, lembrando a festa surpresa de Don no primeiro episódio é de criar desconforto em qualquer um.

Seria possível falar de cada um dos magníficos episódios dessa atípica temporada mas os comentários ficariam extensos demais. No entanto, não há como deixar de comentar o que talvez seja o melhor capítulo de toda a série até agora: The Other Woman (o 11º). Pete consegue uma reunião para possivelmente trazer a conta da montadora de carros Jaguar, mas, para que sua agência tenha uma chance efetiva, algo eticamente condenável tem que acontecer. Falar mais é estragar a surpresa para quem não viu. Basta dizer que, nesse episódio, que conta com uma inteligentíssima edição, as câmeras focam nas duas estrelas femininas da série: Joan e Peggy. E o melhor é que não são histórias convergentes mas sim paralelas, cada uma com seu destino, mas tão bem escritas e atuadas que são de cair o queixo.

E o episódio seguinte, Commissions and Fees, o verdadeiro clímax da temporada, envolvendo o único tema recorrente desse ano, vê Lane Pryce (o incrível Jared Harris) na conclusão de uma saia justa em que se mete anteriormente. Há uma repetição de uma situação vista na primeira temporada em relação a Don que é de cortar o coração. O paralelismo dos roteiristas, com a capacidade de desencavar antigos tesouros da ainda jovem série, é realmente impressionante. E, como já virou praxe em Mad Men, a série acaba em uma espécie de denouément, com o episódio The Phantom, que consegue ao mesmo tempo amarrar os acontecimentos até aqui de maneira eficiente e abrir possibilidades muito intrigantes para o futuro.

Os fãs da série repararão que quase não mencionei Betty Draper. E há uma razão para isso. A atriz, January Jones, conseguiu desentender-se com a produção e seu papel foi reduzido ao mínimo possível. Ela está na temporada fisicamente em apenas dois ou três episódios, mas sua presença, por meio dos filhos do casal, é sentida fortemente. Para escapar da necessidade de mostrá-la, os roteiristas acharam uma saída, digamos, peculiar, envolvendo o uso de forte maquiagem na atriz. Não foi a melhor solução sob o aspecto visual já que as alterações físicas não convencem, mas a trama funciona bem, por ser orgânica ao desenvolvimento do personagem. Além disso, como o foco é mesmo a vida de Don, a ausência de Betty da estória é facilmente tolerada.

Mad Men, apesar da quarta temporada um pouco mais fraca (mas só um pouco), retorna triunfante no quinto ano, definitivamente solidificando-se como uma das melhores séries dramáticas da atualidade, realmente obrigatória para qualquer um que goste de roteiros sólidos e atuações inesquecíveis. 

Mad Men – 5ª Temporada (Estados Unidos, 2012)
Criador:
Matthew Weiner
Direção: vários
Roteiro: vários
Elenco: Jon Hamm, Elisabeth Moss, Vincent Kartheiser, January Jones, Christina Hendricks, Aaron Staton, Rich Sommer, John Slattery, Kiernan Shipka, Robert Morse, Michael Gladis, Jared Harris, Alison Brie, Christopher Stanley, Jessica Paré, Peyton List
Duração: 611 min. (13 episódios)

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