Do excelente Planet Hemp saiu um mundo de novos projetos musicais sensacionais. Desde o fim do grupo (que tempos depois se reuniria novamente) o público teve a oportunidade de ver Marcelo D2 seguir em uma interessante carreira solo com seu rap enraizado na cultura/música brasileira, Black Alien também em carreira solo lançar um dos álbuns mais elogiados do rap nacional, e, principalmente, BNegão se juntar aos Seletores de Frequência e construir uma banda invejável, com influências múltiplas: Rap, Ska, Soul, Funk, Samba e Rock.
Depois de lançar álbuns sensacionais como Enxugando o Gelo (2003) e Sintoniza Lá (2013) é normal nivelar o trabalho de BNegão e sua banda por alto. E é justamente por esperar apenas alto nível vindo deles que seu novo trabalho, Transmutação, termina soando um tanto decepcionante. Primeiramente em sua produção, que soa problemática em grande parte do disco, perdendo parte do groove, da melodia e da riqueza dos instrumentos. Muita coisa aqui acaba soando apenas como se você assistisse, no Youtube, um vídeo de um show executado em um estúdio limitado. Por sorte, isso nao persiste por todo álbum, mas consegue atrapalhar até o excelente single – e melhor faixa do disco, a mais recheada de groove – No Momento (100%).
Mas nem todo problema se trata da produção. Muitos momentos fracos do trabalho resultam de escolhas. Escolher o experimentalismo introdutório do álbum na dobradinha Ago e Dias da Serpente está entre eles, onde um rítmo africano toma o rumo e faz uma sonoridade um tanto crua demais, isenta de melodia, onde a própria mensagem que BNegão tenta passar na letra fica corrompida. Outras escolhas até tomam bons rumos como na boa dobradinha de samba nos metais de No Amanhecer e no cover de Fita Amarela, ainda que a versão da canção de Noel Rosa tenha arranjo simples demais comparado ao que o grupo pode oferecer.
Surfin’Astake é um instrumental que, por mais que bem executado, cai no vale comum pra qualquer um que conheça um mínimo de surf music, aparentando quase ser um cover de Dick Dale. Outras razoáveis canções como No Ar (Convocação) e Nós (Ponto de Mutação) deixam bastante a desejar com seu arranjo um tanto arrastado, repetitivo e lento, o que claramente gera um cansaço no ouvinte acostumado a ouvir fantásticas pancadas sonoras de Funk vindas do grupo. Por sorte, existem momentos extremamente inspirados como em Mundo Tela e Giratória, onde o baixo lidera totalmente o arranjo – muito mais rico que nas outras faixas – e traz um Funk alinhado a um ótimo Rap inserido em ótimas letras sobre a dependência tecnológica e o direito a expressar opinião.
Em seu terceiro álbum, BNegão e os Seletores de Frequência soam tímidos comparado ao que podem oferecer. E potencial enorme claramente o disco tem, principalmente se prestar atenção na mensagem que BNegão tenta passar (a “Transmutação” seria a eterna mudança que a sociedade vem passando, seja relativa ao nosso contato com a tecnologia ou o surgimento de tantos diferentes movimentos). Tentando traçar novos caminhos, alguns funcionam e outros não, gerando no fim um sentimento de decepção. Não se trata de um álbum ruim, mas sim, fraco comparado ao grandioso level que ja foi visto o grupo atingir.
Aumenta!: Mundo Tela
Diminui!: Dias da Serpente
Minha cancao preferida: No Momento (100%)
Transmutação
Artista: BNegão & Seletores de Frequência
País: Brasil
Lançamento: 4 de setembro de 2015
Gravadora: Independente/ Natura Musical
Estilo: Funk, Jazz, Rap, Samba