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Crítica | O Vingador Invisível

por Luiz Santiago
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SPOILERS!

E Não Sobrou Nenhum, um dos romances mais famosos da escritora britânica Agatha Christie, foi escrito em 1939, e já recebeu mais de uma dezena de adaptações para o cinema. A primeira delas foi realizada em 1945 por René Clair, diretor francês exilado nos Estados Unidos após a ocupação nazista em seu país de origem. Na última obra que dirigiria em território americano, Clair realizou um filme de alto suspense e bem fiel à obra original, exceto pelo desfecho, que seguiu as imposições comerciais do mercado distribuidor. Apesar de ser um filme acima da média, está longe de ser uma obra-prima desse diretor, um dos pioneiros do cinema.

O impasse com a palavra “negrinhos”, que deu título ao livro (O Caso dos Dez Negrinhos), porque é o trecho de uma canção cômica; já tinha causado polêmica à época da publicação do volume nos Estados Unidos, o que fez com que a sentença fosse mudada para “indiozinhos”. Por essa questão, o filme de René Clair traz os “indiozinhos” como personagens da música-tema e das estátuas que vão sendo destruídas conforme cada personagem encontra o seu destino dentro do “jogo”.

A trama se passa em uma ilha em Devon, onde oito convidados de um tal U. N. Owen juntam-se aos dois criados da casa e passam a ser julgados por crimes que cometeram no passado. A paranoia se cria aos poucos, especialmente quando chegam à conclusão de que o Sr. Owen está entre eles. A cada novo assassinato, novas suspeitas e novas pistas aparecem, assim como no livro, e mesmo para quem leu o romance, a espera e o modo como a linha de acontecimentos é traçada impressiona bastante.

Deixando de lado a fina ironia e o humor meio cáustico e terno de seus filmes franceses, Clair realizou um filme que seguisse a cartilha do Estúdio. Mesmo assim, o ótimo uso do espaço da casa e a sequência de assassinatos são tão bem orquestradas pelo diretor, que há momentos que chega a um patamar de admirável qualidade plástica e grande demonstração de domínio do espaço pelas mãos do cineasta. A relação entre as personagens e o detalhismo típicos dele recebem a devida atenção, o que não permite que o filme se torna opaco e apenas tenha os crimes misteriosos como chamariz. Em comparação à filmografia de Clair, é sim um filme aquém do esperado, mas mesmo assim, ultrapassa muitas outras obras de suspense da época.

Não sou simpático ao elenco do filme, à exceção de Walter Huston, mas devo admitir que depois dos momentos iniciais, após se estabelecerem na propriedade — e depois das primeiras mortes –, esses personagens parecem ganhar uma força extra e as interpretações ficam mais críveis e elegantes, dignas de um filme desse porte.

A adaptação de René Clair para o livro da Dama do Suspense consegue se colocar acima dos erros e terminar bem. Vale pelo grande apelo dado à psicologia dos moradores da casa e pelo suspense criado em torno da identidade do misterioso assassino, colocando uns contra os outros e fazendo com que o dia a dia no ambiente se torne cada vez mais tenso. Só isso garante a sessão, mas estejam certos de que podem encontrar nesse filme um pouco mais que uma simples suspeita, afinal de contas, trata-se de um filme de René Clair e mesmo seguindo cartilhas, ele não deixava de colocar a sua marca e seus questionamentos.

O Vingador Invisível (And Then There Were None, EUA, 1945)
Direção: René Clair
Roteiro: Dudley Nichols
Elenco: Walter Huston, Roland Young, Louis Hayward, June Duprez, C. Aubrey Smith, Barry Fitzgerald, Mischa Auer, Judith Anderson, Richard Haydn, Queenie Leonard.
Duração: 97 min.

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