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Crítica | MIB – Homens de Preto II

por Ritter Fan
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Continuações fazem parte do jogo de Hollywood. Se o filme original foi rentável, a sequência inevitavelmente virá. MIB – Homens de Preto faturou quase 590 milhões de dólares na bilheteria mundial contra um custo de produção de 90 milhões. MIIB – Homens de Preto II, portanto, era inevitável, mesmo demorando mais do que o usual para ser lançado em vista das agendas das estrelas do primeiro. E, como grande parte das sequências de blockbusters, esta aqui desaponta.

É aquela velha história: o que importa de verdade é fazer a mesma coisa, só que com muito mais barulho, muito mais explosões e todos os exageros possíveis, pois, aparentemente, isso substitui toda e qualquer necessidade de se escrever uma história relevante, diferente e que justifique a existência do filme para além dos fogos de artifício. Requentar a sopa é mais barato do que criar uma receita nova, por mais simples que seja, comprar e cortar os ingredientes, colocá-los no liquidificador e servi-lo com aquele toque mágico de um chef em ascensão.

Em MIB – Homens de Preto II, toda a questão e as subsequentes piadas envolvendo a imigração ilegal são postas de lado e a obra fica limitada a um desfile de reedições das gags anteriores, mas sempre com uma tentativa – fraca, por sinal – de dar ares novos a todas elas. É como comprar sopa pronta com uma etiqueta adesiva por cima da data de validade vencida. O roteiro de Robert Gordon (co-responsável pelo excelente texto de Heróis Fora de Órbita dois anos antes) e Barry Fanaro (egresso da televisão em séries como As Super Gatas), não consegue nem mesmo sustentar a história pelos parcos 88 minutos de projeção. Passados cinco anos dos eventos do primeiro Homens de Preto, vemos o Agente J (Will Smith), que não consegue adaptar-se a novos parceiros, tendo que reverter o processo que apagou a memória do Agente K (Tommy Lee Jones) para derrotar outra ameaça interplanetária, Serleena, uma E.T. vegetal que toma a forma de uma modelo de lingerie da Victoria’s Secret (Lara Flynn Boyle). Ou seja, é exatamente o mesmo filme, só que agora J é o veterano e K o novato e o vilão alienígena é uma vilã alienígena. Deve ter demorado uns cinco minutos do tempo do estagiário dos roteiristas para imaginar algo tão brilhante…

Sem uma base sólida para trabalhar, Barry Sonnenfeld, voltando para dirigir a continuação, não pode fazer muita coisa. O trabalho burocrático é visível, quase como se ele estivesse funcionando “no automático” e isso acaba afetando a ótima química entre Smith e Jones que fazem não muito mais do que uma caricatura de seus personagens e parecem que estão atuando sozinhos, mesmo quando interagem na tela. Rosario Dawson, que vive Laura Vasquez, uma garçonete de pizzaria que acaba se envolvendo na trama de forma muito semelhante ao personagem vivido por Linda Fiorentino no outro filme, consegue ter mais presença de tela e demonstrar mais empolgação do que Smith e Jones juntos. O roteiro fraco, infelizmente, funciona como um vírus e acaba contaminando todos os envolvidos na produção.

E esse vírus atacou também o departamento de efeitos especiais. Na obra original, vemos muitos efeitos práticos com alguma dose de computação gráfica, mas, na continuação, somos brindados com computação gráfica abundante e ruim e meia dúzia de efeitos práticos. Nem a volta de Rick Baker, um dos grandes nomes das próteses e maquiagem, consegue remediar o problema, algo que fica claro, por exemplo, em Charlie e Scrad, vividos por Johnny Knoxville (aquele cara que às vezes surta e acha que é ator). Ele tem duas cabeças e a menor é como tivesse sido feita em CGI de fundo de garagem, mesmo considerando a época em que o filme foi produzido e deixando às escâncaras na comparação, o quão melhor era o primeiro também neste quesito.

Mas nem tudo se perde. Há algumas piadas que funcionam, como as que ocorrem em volta da vida pacata de K (agora Kevin), transformado em um agente de correio em uma cidadezinha rural, no meio do nada. Ele continua o mesmo durão de sempre, dando ordens e seguindo as instruções à risca, mas dentro de um universo muito mais limitado. Isso leva a bons momentos, mas que são perpetuados por um roteiro que parece conter apenas essa boa ideia. E Frank (voz de Tim Blaney), o parceiro canino falante improvisado de J, também permite uma ou duas risadas, até o momento em que percebemos que elas não têm fim e são, basicamente, repetições da primeira.

MIB – Homens de Preto II não é uma das piores sequências já feitas, longe disso. Apenas é uma reedição morna e sem gosto do primeiro filme, o que retira seu possível charme e deixa a clara impressão de que um pouco mais de cuidado na construção da história teria impedido que ele fosse para a “vala comum” das continuações, um dos locais mais populosos de Hollywood. Pelo menos o público não pareceu que foi enganado com o café requentado e a bilheteria foi igualmente morna, o que enterraria a franquia por 10 anos.

  • Essa crítica é uma republicação, com profundas alterações, de minha crítica originalmente publicada no site em 2012.

MIB – Homens de Preto II (Men in Black II, EUA – 2002)
Direção: Barry Sonnenfeld
Roteiro: Robert Gordon, Barry Fanaro (baseado em quadrinhos de Lowell Cunningham)
Elenco: Tommy Lee Jones, Will Smith, Rip Torn, Lara Flynn Boyle, Johnny Knoxville, Rosario Dawson, Tony Shalhoub, Patrick Warburton, Jack Kehler, David Cross, Tim Blaney
Duração: 88 min.

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